Sociedade Portuguesa de Transplantação

Carta Aberta a Sua Excelência o Ministro da Saúde

Precisamos de explicações Sr. Ministro da Saúde!

Em entrevista televisiva recente o Exmo. Sr. Ministro da Saúde, Dr. Paulo Macedo, afirmou que
temos que olhar se podemos sustentar o actual número de transplantes e que não há
necessidade de haver um incremento no número de transplantes.

Palavras estranhas que nunca esperei ouvir de ninguém com responsabilidades na política de
saúde. Tratou-se seguramente de um equívoco que acredito será desfeito brevemente.

Segundo os dados do Registo Nacional do Tratamento da Doença Renal Crónica Terminal
disponibilizados pelo Gabinete de Registo da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, que
coordeno, Portugal tinha, em 31 de Dezembro de 2010, 10152 doentes em hemodiálise e 660
em diálise peritoneal. Desses, uma população entre 20 a 25%, têm indicação para transplante
renal! O Sr. Ministro da saúde terá que explicar a esses doentes que porventura poderão
esperar mais tempo por um transplante porque não há necessidade de incrementar o número
de transplantes e não podemos sustentar o actual número de transplantes.

Aos doentes com patologia hepática terminal terá que ser explicado que terão menos hipótese
de ser transplantados e mais probabilidade de morrer em lista de espera.

Aos doentes com insuficiência cardíaca não tratável por outros meios que não o transplante
também terá que ser explicado que têm mais probabilidade de morrer sem o transplante
chegar. E o mesmo para o transplante pulmonar…

É preciso explicar o inexplicável!

O transplante não é uma despesa, o transplante é um investimento em vida e em qualidade de
vida.

Os números disponíveis nos registos da actividade da transplantação levados a cabo pela
Sociedade Portuguesa de Transplantação provam isso! Mas quem é que não percebe que a
transplantação de órgãos enceta lucros, talvez de mais difícil aferição, mas reais!? O
transplante renal é reconhecidamente mais barato que a diálise, o retorno à vida activa de
doentes que de outra forma não sobreviveriam (transplante cardíaco, pulmonar, hepático, de
medula) não tem preço! Os ganhos de saúde, sociais e humanos que a transplantação permite
justificam por si só o empenhamento de todos nesta actividade. Os profissionais de saúde e as
autoridades devem coexistir com objectivos comuns de sucesso clínico e eficácia. Nos últimos
anos Portugal projectou-se no mapa da transplantação mundial com lugar de destaque
merecido, é líder no transplante renal e hepático com dador cadáver, com números aceitáveis
na transplantação cardíaca e em franco crescimento no transplante pulmonar. Isso deve ser
motivo de orgulho de qualquer Ministro da Saúde.

Portugal não tem um programa de transplantação acima das suas capacidades, tem o
programa de transplantação que conquistou com esforço e dedicação de muitos desde a
colheita ao acto da transplantação e ao seguimento diário de largos milhares de doentes.
Portugal investiu na transplantação e, usando a tão querida e actual linguagem económica,
retira todos os dias lucros desse investimento no prolongamento e melhoria da qualidade de
vida dos doentes transplantados com sucesso.

Precisamos de explicações urgentes para continuar a acreditar que as listas de espera não
serão preenchidas por fatalidades evitáveis.

Fernando Macário
Presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação
Lisboa, 01 de Setembro de 2011

Escrito por NorahsEvents

jan 24, 2022

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